Na questão 909 do LE, Kardec pergunta se o homem poderia sempre vencer suas más tendências pelos seus esforços.
Os Espíritos Benfeitores respondem que “Sim, e algumas vezes por fracos esforços. É a vontade que lhes falta” ; e encerram a resposta com o seguinte comentário: “Quão poucos dentre vós fazem esforços”.
Sabemos o que é virtude e o que é vício, mas como saber se estamos sendo virtuosos?
Dispomos de alguns recursos que nos permitem esta avaliação. Dispomos da razão, da inteligência e do livre-arbítrio e, ligada a essa condição de escolha, temos a vontade. Associada a esses fatores contamos ainda com a fé raciocinada que é a compreensão do nosso dever moral em relação a Deus e a nós mesmos.
Todavia, se temos a consciência de nossa inferioridade espiritual, como identificá-la? Duas atitudes priorizam essa identificação: o apego demasiado às coisas materiais e o interesse pessoal, frutos do mesmo sentimento de egoísmo que norteia os objetivos que perseguimos em cada existência na matéria.
O mundo é regulado por leis divinas que estabelecem limites em função das nossas necessidades. Assim, em qualquer aprendizado que o homem realize, seja em um ofício, na arte ou mesmo no exercício de um poder qualquer, ele acaba criando mais prejuízo a si próprio do que aos outros, pois não consegue ou não sabe distinguir o uso do abuso (excessos), gerando perturbações danosas ao seu organismo e ao seu psiquismo.
Podemos ter alguns exemplos:
Na alimentação - que, de uma necessidade que nos dá prazer, pelo excesso se transforma em “prazeres da mesa” - o homem passa a viver para comer o que leva à enfermidade e à morte.
Na recreação - que, necessária ao Espírito como fonte de higiene mental pode ser transformada, pelo excesso, em sedução pela emoção (de qualquer tipo), pelo lucro fácil, o que leva, inevitavelmente, ao vício do jogo.
E o que dizer da necessidade de afeto e de carinho que todo ser humano tem?
A necessidade de dar e receber afeição que deve ser compartilhada com a família, os amigos e os semelhantes, pelo excesso, concentra-se em uma só pessoa transformando-a em “objeto de amor”, levando ao desequilíbrio espiritual quando de sua perda (golpe danoso).
Ainda mais um exemplo pode ser dado se nos lembrarmos da necessidade de auto-afirmação. Todos nós precisamos de projetos que nos levem ao sucesso pessoal, seja no campo social ou profissional. Todavia, quando transformamos essa idéia em um processo obsessivo, quase sempre nos esquecemos dos demais projetos de vida, tão importantes quanto esse e não enxergamos mais nada ao nosso redor. Dessa maneira chegaremos ao monoideísmo ( idéia fixa ) que certamente trará imensos prejuízos ao nosso equilíbrio psíquico.
Kardec pergunta aos Orientadores Espirituais se essas paixões são irresistíveis e eles respondem que não. Acrescentam, nos alertando, que algumas pessoas dizem querer resistir, mas falta-lhes a vontade real e seus Espíritos, pelas suas condições inferiores, se comprazem nessa situação; e que aquele que procura reprimi-los, realmente, já compreende a natureza espiritual e isso é um triunfo do Espírito sobre a matéria.
A melhor maneira de resistir ao mal é, portanto, conhecendo-se. E como fazê-lo?
O exame de nossas reações a algumas situações podem nos alertar: no convívio com o próximo, na dor, no isolamento - quando possível - ou então como fazia Santo Agostinho que inventariava diariamente suas ações, ao deitar, para procurar a maneira de ser melhor no dia seguinte. Fazia uma lista daquilo que havia feito de bem e de bom, daquilo que não pôde fazer, do que poderia ter feito e não fez, e do que fez de mal. Isso não é complicado de executar e, com um pouco de vontade, também podemos fazer.
Durante nossas existências, colecionamos situações aflitivas e conflitantes que necessitamos esconder sob máscaras adequadas às circunstâncias que nos cercam. Mas gastamos tanta energia para ocultá-las que, quando feridas são abertas, é como se nos faltasse energia - cria-se um vazio - para continuar a luta. Compreendemos, face a isso, que quanto MAIOR for a transparência de sentimentos, MAIOR será a energia disponível para enfrentarmos a vida e muito mais rapidamente retornarmos ao equilíbrio diante de qualquer situação que possa nos desarmonizar momentaneamente.
Independente do grau evolutivo em que nos encontramos hoje, todos buscamos o mesmo objetivo: a EVOLUÇÃO E A FELICIDADE.
Não é fácil, pois sempre atenuamos nossos defeitos e exacerbamos o alheio.
Por isso “é necessário sermos sinceros conosco e aquilatarmos os nossos defeitos em função de como os classificaríamos quando praticados por outros.
Não pode haver dois pesos e duas medidas para Deus.
O paradigma a ser seguido é JESUS. O código, o EVANGELHO.
Por Leda Maria Flaborea, (Revista Internacional de Espiritismo)
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário